terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Boa garota

Era só o que eu queria que você fosse. Uma boa garota. Você poderia apenas ter sido boazinha, e me tratado bem, e me amado, e me beijado suavemente. Ou você poderia ter contado no início de tudo, que, você definitivamente era a rainha dos escorpiões. Que você se disfarça de sapo pra não precisar entrar na história.

Eu tenho passado os últimos treze anos da minha vida tentando vender um papel de vilã que sempre te pertenceu.

Você chega de mansinho, fingindo ser uma boa garota enquanto observa meu desespero para esconder meu coração mole por trás dos espinhos e da agressividade. Mas você sabe: teatro acaba, cortinas se fecham e acabam-se as farsas. Você não foi uma boa garota. Eu não sou a vilã da novela. E no fim das contas nem eu nem você prestamos. E também não somos a vilã de nada.

Somos seres humanos que sangram, erram e acertam. A gente se encontrou no erro. 
Se é da minha natureza ser grosseira, é da sua fingir de boazinha para outros. Se é da minha natureza ser controladora, é da sua ser manipuladora com seus choros e sua falsa sensibilidade. Se é da minha natureza trair, é da sua também. Pá.
A gente se encontrou no erro.

Lembra-se de como eu te chamava? Era meu apelido carinhoso referente ao seu peso. É o nome de uma linha de ônibus que eu sempre brincava falando que era sua.

Se você tiver oportunidade, procure sobre brigas entre tubarões e baleias. É sensacional. Tem reportagens em que o tubarão não teve chance. Outras, a baleia foi exterminada. 

Não tem vencedor por aqui, entende? A gente perdeu. 

E, se você perceber, é sempre uma briga pela carne. Sim. É carnal. Não me sinto mal. Você é bonita de ver. De sentir. De comer. 

Enfim…
Você não pode ser o mar. Não merece ser tanto. Você é o ser que se andasse comigo seríamos imbatíveis. Seriamos os dois maiores seres desse oceano. Mas em contrapartida é meu inimigo mortal. 

Os tubarões nadam sozinhos, como eu já disse. 

Eu só queria que você fosse uma boa garota. Por que eu sou controladora. E você fingiu ser uma boa garota por longos anos, porque é manipuladora. Mas agora nós nos descobrimos seres humanos. 

Espero que você tenha enfim se despido pra mim. Ficado nua. Espero poder ver você agora, como realmente és. Estou nua também. 

Pelo menos isso. 

Você não foi uma boa garota.


Mas pelo menos agora você é real.

Tubarões

Gosto do sangue. Você sabe disso. Eu talvez finge que sabe. Sempre me olhou com seus olhos de piedade. Nunca me deu crédito quando te dizia que eu era um monstro. Mas eu sou. E aqui vai a prova disso. Eu gosto do sangue. 

Quando você me disse estar disposta a sangrar pela forma mais bonita que já conheceu – eu – eu só pude pensar numa coisa: Eu quero até a última gota. Quero os órgãos, as tripas, os ossos e músculos. Eu quero cada veia, artéria. Me dê seus tendões, seus cabelos, suas unhas, teus dentes. Eu quero os mucos, a saliva, as fezes, as partes censuradas, eu quero até aquilo que mais fede: eu quero sua alma.

E você, gentilmente, quer me dar tudo. Você esta disposta a salvar essa relação parasita. E é tão cômodo permitir que você dance pela minha vida, fazendo aquilo que quer: Você, e sua necessidade de me agradar. De se doar inteira pra mim. E eu, na minha necessidade de viver as custas da sua felicidade. De te sugar inteira.

Você publica os textos em que fala do amor próprio resgatado, e de como tem sido incrível superar e voltar a vida. Realmente seria incrível, se fosse real. Te escrevo agora sobre isso. Após sugar uma boa parte de você pra mim, eu possuo uma pequena parte pura. Mas é como a Lua num crepúsculo. Em breve ela desaparece no céu negro. Em breve é sugada pelo lado mal. Então, te escrevo com pressa, antes que o sapo em mim se torne novamente o escorpião, para te suplicar, e te avisar, mais uma vez: Vá.

Sei que você irá cansar de se doar inteira pra mim. Mas eu não. Eu nunca me cansarei. E depois que eu começar… Não posso parar. Você sabe. Ou finge que sabe.

Existe algo podre aqui dentro. Merda pura. Você conhece o ditado: “Merda: quando mais se mexe, mais fede”. Eu estou abrindo as feridas, cutucando as infecções. Tudo fede agora. Eu estou pronta pra surtar. Pra feder por completo. E as coisas vão ficar feias por aqui. Não existe mais espaço pra você tentar me ajudar. Agora inicia minha auto-sabotagem, e ninguém irá me parar. A única coisa que você pode fazer, é partir. Vá embora antes que eu termine de levar o resto de suas virtudes. Antes que eu sugue o resto de você para minhas entranhas. Sei o que vou fazer contigo se você permanecer. Eu não terei piedade, eu não me lembrarei dos momentos bons. Eu não me recordarei do quanto te amei. Não há mais nada aqui, além da vingança sórdida e lenta. Afaste-se, antes que eu inicie todo o processo e não reste mais nada de nós. Te peço que leve a sérios teus textos de auto-ajuda e superação. É hora de ir. E você sabe disso.

Os tubarões nadam sozinhos.


Tristeza

Veja só o que ela virou.
Um saco de merda.

Eu sinto o mal humor. Ele sai pelos meus poros. Deus.
Eu voltei a ser aquele saco de pedras sendo empurrado e puxado para todos os cantos. “A gente quer te ajudar” - eles dizem. Mas eles já não suportam mais a negatividade.
Merda.
Eu estou tão só e triste novamente. Eu estou ouvindo aquela música que não posso de jeito nenhum escutar.
Oh, Céus.

Dezembro esta chegando, amor.
O surto de dezembro era você.
Sempre foi você.

E sempre vai ser você.