terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Passageiro, mas não acaba nunca

Agacha na altura dos olhos quando conversa com crianças.
Ama café mas nunca toma nenhum.

Sempre acerta no presente.
É uma ótima dançarina.
Não é estabanada. 
É a melhor motorista que eu conheço.
Incrivelmente limpa e organizada.
Não cozinha tão bem quanto pensa. Mas acho um charme.
Chora em filmes, casamentos, brigas, enterros ou com absolutamente nada acontecendo.
Ama cuidar. Não faz por obrigação, mas simplesmente por amar acordar de madrugada, checar febre, dar remédio, fazer comida e de dedicar ao cuidado do outro.
Nunca sabe o que quer mas está sempre realizada em tudo o que faz.
Deixa os outros sempre muito a vontade.

domingo, 15 de setembro de 2019

O significado de Vanessa é borboleta. Da lagarta à liberdade, eu sou o casulo.

Tenho saudade da garota que não vinha aqui desabafar.
Você sabe e eu sei e todo mundo sabe que eu choro em palavras. 
Vir aqui é meu atestado de crise. Coloquem os cintos, pois estamos em uma.

Meses ignorando os sintomas e sinais, na esperança que fossem passageiros.
Mas as coisas simples passam a ser coisas dolorosas e densas demais, e todos começam a perceber. 

Reunimos toda energia para entrar em uma conversa ou responder provocações com o humor esperado, mas as vezes falhamos e desabamos em público, sem força alguma para se reerguer.
O interessante é que não falta apenas energia para se reestabelecer, mas falta interesse em estar bem. Realmente não quero estar feliz novamente, pois será frustrante sentir essa felicidade reduzida, sentir que não será possivel ser tão feliz como pude um dia, e entender que nunca mais estarei no meu máximo potencial. Não quero viver de nenhuma migalha.

E continuo fazendo o que tenho que fazer. Me apresento no trabalho todos os dias, sorrio para os clientes e acaricio a cabeça da minha namorada. Jogo papo pro ar com meus familiares e tomo uma cerveja com meu pai aos finais de semana. No fundo, uma voz tilintando em minha cabeça, pedindo que aquele dia não necessariamente termine bem, mas que simplesmente termine. 

Quando me deito, estou terrivelmente cansada e meu sono que antes me consumia oito horas noturnas, pode se estender até quatorze. Agora eu durmo muito pra estar ausente o tempo todo. E como pouco porque o vazio é impreenchível. Os dias vão em câmera lenta, e, honestamente, eu não sei a diferença de quinta para um domingo. São todos iguais.

E vai se tornando mais difícil, meus amigos não me encontram, minha família não consegue mais estabelecer contato, e eu me condeno a conviver apenas comigo mesma por mais algumas semanas até isolar todos completamente.

Não é triste e nem solitário. É vergonhoso. A maior parte do tempo, tenho vergonha do que faço e do que não faço. Morro de culpa e quero pedir desculpas a todos vocês, mesmo que nada tenha acontecido. Me perdoe por isso também. 

Devido a minha total falta de proposito há um imenso abismo entre nós. Agora você já sabe disso e por fim desistiu de estabelecer contato. Eu não estou aberta a nenhuma aproximação. E esta tudo bem. Não consigo acumular energia pra isso, também. Vou te deixar passar.

Minha cartada final é procurar ajuda, pois dessa vez não consegui sair da crise sozinha. Na verdade, alguma vez eu sai?
Espero que você procure ajuda também. Vai ser doloroso essa vida sem mim.


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Barulho na tranca, alguém abre a porta.

- Quem esta ai?
- Oi! Sou eu, o Edu! Você ainda esta aqui?
- Sim.
- Cara, já fazem meses! Eu vim pra mostrar o apê pro novo inquilino.
- Eu sei... é que... eu não consigo fazer a mudança. As caixas ainda estão por aqui... em algum lugar.
- Como você consegue morar no meio dessa bagunça?
- Sei lá. Fui ficando. É minha bagunça agora.
- Já foi nossa bagunça.
- É.
(Silêncio)
- Eu preciso liberar pro novo inquilino.
- Você não quer que eu arrume a bagunça? Eu posso ficar mais alguns dias, você pode me ajudar e vamos organi...
- Carlos, não. 
- Por que não?
- Eu demorei a encontrar esse novo inquilino. Ele não vai querer ver um antigo morador aqui. Você precisa ir.
- Quanto ele vai pagar? Eu quero negociar contigo.
- Não tem negociação. A chave já esta com ele.
- Mas você nem me deixa tentar, Edu. A gente pode organizar nossa bagunça!
- Sua bagunça.
- É... minha.
- Essa bagunça agora é do novo inquilino, Carlos. Deixa ai, vamos embora.
- Mas Edu....
- Vamos.

A porta se fecha. Portas trancadas. O espaço enfim esta vazio. Bagunçado, mas vazio.

- Então é isso? Cada um pro seu canto?
- Sim, Carlos. Tchau.
- Tchau.
(Silêncio)

- Edu?!
- Oi.
- Você sabe que eu sou o proprietário, né?
- Sei.