sábado, 2 de julho de 2016

Dor

Hoje não deu. Hoje não tem música que vai animar ou companhia que vai ajudar. Não tem jeito. A gente fecha os olhos, bebe, reza, fuma, vira madrugada, reproduz falácia e movimenta um mundo inteiro pra fugir da dor. Mas tem dia que não dá. A dor fica esperando nossas tentativas cessarem e os atalhos inúteis finalizarem pra simplesmente sentar na mesa e falar “Não da pra mudar de cômodo sem passar por mim, meu bem. Eu sou a porta.” E ai você se dá conta que não tem como fugir.

E quando digo fugir, estou te avisando: Não tem nem como fazer o caminho contrário sem passar pela dor. Imagine essa casa, essa casa de três cômodos, onde o primeiro era onde você estava: uma vida feliz, um relacionamento estável, um emprego favorável, bem estar e qualidade de vida. Passa-se sorrateiramente para o segundo cômodo, onde estamos agora: Estamos fingindo que mantivemos o bem estar do primeiro cômodo, quando, na verdade, estamos no fundo do poço. Enfeitamos o porão e deixamos a luz fraca pra que ninguém veja os ratos e a sujeira. E lá vamos nós, tentando novamente ir para o terceiro cômodo: Acesso negado. A dor, como espectadora fiel, tem nos observado, aguardando o momento final em que nos rendemos e percebemos que: Não tem jeito, meu amor. A saída é por aqui. Pelo caos, choro, luto e dor. Se engana aquele que então, prefere retornar ao primeiro cômodo. Se antes seu escape fora sorrateiro e imperceptível, quero lhe avisar: Terás que atravessar outra porta, meu amor. Até pra voltar, tem dor. Aceitas a indicação que te dou: Quando mais rápido fizer a passagem, mais rápido acaba o sofrimento.


A passagem é dolorosa, mas sei que sobreviverás. Força, fé. Persiste na dor. Ela sabe como recompensar. E posso te garantir: A vista é espetacular.