Hoje
não deu. Hoje não tem música que vai animar ou companhia que vai ajudar. Não
tem jeito. A gente fecha os olhos, bebe, reza, fuma, vira madrugada, reproduz
falácia e movimenta um mundo inteiro pra fugir da dor. Mas tem dia que não dá.
A dor fica esperando nossas tentativas cessarem e os atalhos inúteis
finalizarem pra simplesmente sentar na mesa e falar “Não da pra mudar de cômodo
sem passar por mim, meu bem. Eu sou a porta.” E ai você se dá conta que não tem
como fugir.
E
quando digo fugir, estou te avisando: Não tem nem como fazer o caminho
contrário sem passar pela dor. Imagine essa casa, essa casa de três cômodos,
onde o primeiro era onde você estava: uma vida feliz, um relacionamento
estável, um emprego favorável, bem estar e qualidade de vida. Passa-se
sorrateiramente para o segundo cômodo, onde estamos agora: Estamos fingindo que
mantivemos o bem estar do primeiro cômodo, quando, na verdade, estamos no fundo
do poço. Enfeitamos o porão e deixamos a luz fraca pra que ninguém veja os
ratos e a sujeira. E lá vamos nós, tentando novamente ir para o terceiro
cômodo: Acesso negado. A dor, como espectadora fiel, tem nos observado,
aguardando o momento final em que nos rendemos e percebemos que: Não tem jeito,
meu amor. A saída é por aqui. Pelo caos, choro, luto e dor. Se engana aquele
que então, prefere retornar ao primeiro cômodo. Se antes seu escape fora
sorrateiro e imperceptível, quero lhe avisar: Terás que atravessar outra porta,
meu amor. Até pra voltar, tem dor. Aceitas a indicação que te dou: Quando mais
rápido fizer a passagem, mais rápido acaba o sofrimento.
A
passagem é dolorosa, mas sei que sobreviverás. Força, fé. Persiste na dor. Ela
sabe como recompensar. E posso te garantir: A vista é espetacular.