Verdade, verdade é que ta foda. Descobri que o amor da minha
vida encontrou o amor da vida dele. Puta que pariu. É claro que eu sabia das
possibilidades. As probabilidades eram claras: Se ele não esta com você, uma
hora estará com outra. Mas vocês sabem como funciona a esperança... Se ele
ainda não está com ninguém, é porque em algum lugar, com alguma explicação
exotérica, onde os cosmos de alinham esta marcado. Ele esta destinado a me
encontrar no fim da estrada. É porque ele irá se casar comigo. Entrei de cabeça
nas comédias românticas Hollywoodianas e me ferrei.
Não tem cosmo, não tem destino, não tem coincidências. O
amor da minha vida já comprou as alianças douradas, vai se casar com uma mulher
que eu sequer consigo odiar. Ela faz medicina. Faz trabalho voluntário. É loira
e peituda. Sorriso brilhante. Melhor amiga da minha sogra. Digo... Ex-sogra. Era
a mulher que eu inocentemente desejei que ele encontrasse quando terminamos.
Sabendo que no inconsciente eu queria mesmo era que ele me encontrasse. Eu, com
minha barriguinha de cerveja, cabeleira castanha, dente amarelado de café e
inimiga da sogra.
Trinquei os dentes e embalei um sorrisão. Minha amiga já me
puxou pro canto e avisou “Esquece de vez. Ele vai casar”. É. Parece que vai,
mesmo. O que fazer? Já escutei Caetano, fui na cartomante, joguei búzios e
tarô. Fiz psicanálise. Nem Freud suportou. As gavetas já estão vazias há quatro
anos. O coração foi preenchido quatro vezes. Viajei os quatro cantos do mundo.
E ele vai se casar dia quatro do mês que vem.
E eu vou lembrar o quanto ele gostava quando eu ficava de
quatro, de quando ele despedia três vezes, fechava a porta e voltava de novo,
pra despedir pela quarta vez. Vou me lembrar de quando ele contava das três
ex-namoradas, e de como, agora, eu sou a quarta. Dos nossos quatro filhos. Vou
me lembrar de quando planejamos que nosso quarto não teria cama, nem armário,
nem nada. Só um colchão. Nosso amor surrado que ia ficar guardado dentro de
quartinho de um apê de dois quartos, geladeira vazia e coração cheio.
O destino não trouxe meu amor de volta. O destino levou o
amor da minha vida pro amor da vida dele. E não tem nada que eu possa fazer. Não tem
música ou lugar que caiba meu coração. Não tem ombro amigo nem ninguém que me
faça esquecer os quatro anos com o amor da minha vida que agora tem o amor da
vida dele, quatro anos depois.
Há oito anos eu conheci o amor da minha vida, mas esse oito
não foi infinito pra nós. É pra mim. Infinitamente infinito o amor da minha
vida.
Verdade, verdade, é que ta foda. Tô com saudade dele.