quarta-feira, 15 de abril de 2020

Você faz falta?

Conheci ela no trabalho. É louco porque eu anunciei que ela seria promovida. Liguei para pedir alguns documentos e a parabenizei. Ela agradeceu e desligamos. E a gente não se falou por uns sete meses. Sem nem saber que ela era o amor da minha vida, desliguei o telefone. 

Fui enviada pro mesmo andar que ela trabalhava. Um dia ela ligou confusa, precisava de ajuda em uma demanda específica. Procurei seu rosto entre os monitores, mas não encontrei. Os olhos  encarando o computador, deixavam claro que ela não fazia ideia do que estava fazendo. 

Passamos de colegas de trabalho à amigas em salas de reunião, comentando coisas em redes sociais até dividirmos a mesma garrafa de vinho e a mesma vida. Começamos a namorar quando ela tinha 28 e eu 23, mas parecia que a vida começava ali. Assistimos todos os filmes nacionais no cinema. Comemos todos os tipos de sushi. Queimamos algumas panelas de comida porque a conversa tava boa. Compramos viagens sem checar se era casamento de alguém. Fomos promovidas, formamos na faculdade, compartilhamos nossos melhores amigos. Das dez músicas que eu mais gosto, sete foi ela que me mostrou. Todas são MPB. Aprendi tudo sobre como mulheres engenheiras são sexys quando estão organizando minha agenda porque eu não tenho raciocínio lógico coerente pra fazer sozinha. Eu ri de todos vocês de não terem a sorte de serem namorada dela. 

Um dia, terminamos. E não foi fácil. Chorei mais do que no final de "A espera de um milagre". Mais do que "O milagre da cela 7". Até hoje, não tem um lugar que eu vá em que alguém não diga, em algum momento: cadê ela? Acredite: eu me pergunto isso a cada minuto também. Pra sempre você vai fazer falta. Se ao menos a gente tivesse tido uma filha, eu penso. Ela falaria que ia comer chicória, teria cabelo cacheado e seu tom de pele.

Essa semana, pela primeira vez, revi tudo. Nossas fotos, conversas, presentes, cartinhas. Achei que fosse chorar de novo. E o que me deu foi uma felicidade danada de ter vivido um grande amor na vida. Saudável. Leve. As vezes, raso demais, por ser um amor cauteloso. Me senti cuidada e segura a cada segundo contigo. E ter esse amor guardado em cada cartinha e memória, me fez concluir que: Não, não falta nada.